Alimentação na esteatose hepática (gordura no fígado)
- Luísa Schiavini
- 5 de abr.
- 4 min de leitura
Fez uma ultrassonografia abdominal e foi diagnosticado com esteatose hepática? Leia o artigo até o final e entenda o que é a esteatose, se ela é grave e quais estratégias nutricionais adotamos para o controle da doença.

A esteatose hepática, comumente denominada gordura no fígado, é definida pelo acúmulo excessivo de lipídios no interior dos hepatócitos. Trata-se atualmente da doença hepática mais prevalente no mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, estima-se que entre 20% e 30% da população geral apresente algum grau de esteatose hepática.
Diagnóstico
É fundamental destacar que a esteatose hepática é uma condição assintomática, ou seja, não provoca sinais ou sintomas clínicos específicos. Seu diagnóstico depende exclusivamente da avaliação por exames de imagem, como:
Ultrassonografia abdominal (exame mais comumente utilizado),
Tomografia computadorizada,
Ressonância magnética.
A interpretação desses exames deve estar sempre associada ao quadro clínico do paciente e a exames laboratoriais complementares. Apesar da alta prevalência da condição, não se recomenda rastreamento populacional indiscriminado. A indicação de exames de imagem deve ser direcionada a indivíduos pertencentes a grupos de risco, conforme descrito a seguir.
Classificação
A esteatose hepática é dividida em duas categorias principais:
Esteatose hepática alcoólica:Associada ao consumo crônico e excessivo de bebidas alcoólicas.
Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA): Possui etiologia multifatorial e representa a forma mais comum da enfermidade. É este subtipo que será abordado com maior profundidade.
Causas e Fatores de Risco
O aumento na identificação de casos de esteatose hepática pode ser atribuído a dois fatores principais:
Maior disponibilidade e utilização de exames de imagem na prática clínica;
Crescimento exponencial da incidência de distúrbios metabólicos, tais como alimentação inadequada, resistência à insulina e sobrepeso/obesidade.
Os principais fatores de risco incluem:
Obesidade, especialmente com acúmulo de gordura visceral;
Diabetes mellitus tipo 2;
Dislipidemia (hipercolesterolemia e/ou hipertrigliceridemia);
Hipertensão arterial sistêmica.
Estas condições integram o quadro clínico da síndrome metabólica, e indivíduos diagnosticados com essa síndrome são considerados grupo de risco elevado para esteatose hepática.
Fatores Secundários Associados
Outros fatores de risco, considerados secundários, também estão associados ao desenvolvimento da esteatose hepática:
Uso de determinados fármacos hepatotóxicos, tais como:
Amiodarona,
Corticosteroides,
Estrógenos,
Tamoxifeno;
Exposição ocupacional a toxinas ambientais (em especial na ausência de equipamentos de proteção individual);
Uso de esteroides anabolizantes;
Histórico de cirurgias abdominais específicas.
Além disso, algumas condições clínicas preexistentes podem estar associadas à esteatose, como:
Hepatite C crônica;
Hipotireoidismo;
Síndrome da apneia obstrutiva do sono;
Hipogonadismo;
Síndrome dos ovários policísticos (SOP);
Lipodistrofia, sobretudo em pacientes em uso de terapia antirretroviral para o tratamento do HIV.
Prognóstico e Complicações
A evolução clínica da esteatose hepática é, em muitos casos, reversível, desde que seja instituído um plano terapêutico adequado, baseado na modificação do estilo de vida e no controle rigoroso dos fatores de risco.
Entretanto, quando não manejada adequadamente, a esteatose pode evoluir para uma forma mais grave denominada esteato-hepatite. Essa condição é caracterizada por:
Inflamação hepática,
Morte celular (apoptose),
Fibrose hepática progressiva.
A longo prazo, essa progressão pode culminar em cirrose hepática e até mesmo em carcinoma hepatocelular (CHC), uma das formas mais graves de neoplasia hepática.
Tratamento da Esteatose Hepática de Causas Primárias
O tratamento da esteatose hepática de origem primária é fundamentado, primordialmente, na mudança do estilo de vida (MEV). Essa abordagem compreende três pilares essenciais:
Alimentação equilibrada e saudável,
Prática regular de atividade física,
Acompanhamento médico contínuo.
Alimentação
A base da alimentação recomendada é simples, porém eficaz. A adoção de uma dieta composta por alimentos naturais e minimamente processados apresenta resultados clínicos positivos. São recomendados:
Arroz,
Feijão,
Proteínas magras (como frango, peixe, ovos),
Leite e derivados com baixo teor de gordura,
Frutas e hortaliças variadas.
Não há necessidade de exclusão de glúten ou lactose, salvo em casos de intolerância ou contraindicação clínica específica.
Deve-se evitar, de forma rigorosa:
Alimentos ultraprocessados, tais como:
Biscoitos recheados,
Salgadinhos industrializados,
Embutidos (salsicha, presunto, mortadela),
Macarrão instantâneo,
Produtos empanados congelados (como nuggets);
Bebidas açucaradas, como:
Refrigerantes,
Sucos artificiais,
Bebidas lácteas adoçadas;
Álcool, cujo consumo deve ser desencorajado ou, no mínimo, extremamente reduzido;
Sucos naturais de frutas, que devem ser consumidos com moderação e não de forma cotidiana, considerando seu impacto glicêmico.
Suplementação
Estudos demonstram benefícios potenciais da vitamina E na melhora do quadro de esteatose hepática. Contudo, é imprescindível adotar cautela com a suplementação de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), pois estas se acumulam no organismo.
A suplementação inadvertida, especialmente em altas doses, pode ultrapassar o limite de toxicidade, agravando a função hepática ao invés de promover melhora. Portanto, a prescrição deve sempre ser feita por profissional habilitado, com base na avaliação clínica e laboratorial individualizada.
Controle de Peso e Composição Corporal
Para pacientes com sobrepeso ou obesidade, recomenda-se uma redução de aproximadamente 10% do peso corporal total. No entanto, o objetivo principal não é apenas a redução de peso absoluto, mas sim a perda de gordura corporal, com a preservação da massa muscular.
A estratégia adotada envolve o estabelecimento de um déficit calórico controlado, no qual o indivíduo consome menos calorias do que gasta ao longo do dia. Essa abordagem promove um processo de emagrecimento gradual, sustentável e clinicamente seguro, que favorece a regressão da esteatose hepática.
Conclusão
Embora a esteatose hepática seja uma condição comum e, muitas vezes, silenciosa, seu potencial de progressão para formas graves reforça a importância do diagnóstico precoce, da avaliação individualizada do risco e da implementação de medidas terapêuticas eficazes.
O tratamento da esteatose hepática não envolve, em sua maioria, intervenções farmacológicas, mas sim ajustes sustentáveis no estilo de vida. A adoção de hábitos alimentares saudáveis, aliada à prática regular de atividade física e ao acompanhamento profissional, representa a estratégia mais eficaz para o controle e reversão dessa condição.
Precisa de ajuda para lidar com a sua alimentação? Então agende sua consulta para ter o tratamento especializado!
Nut. Luísa Schiavini
CRN-2 13885
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